Queridas leitoras (es)do Blog Revista Oficina do Verso,a publicação que segue é o que chamamos de fertilização da palavra poética e o que nos motiva a dedicar um pouquinho do nosso tempo e trabalho a este espaço. Com esta "fertilização poética"da querida poeta amiga, Marilu Duarte, iniciamos a coluna "As Marias",espaço que será destinado a todas as poetas leitoras,poetas escritoras,que aspirem mostrar sua semente poética, suas opiniões, sua arte, sua necessidade de clamar por arte, poesia,amor,paz,educação,dignidade,igualdade e justiça ou então,simplesmente fazer silêncio.Não podemos mudar o mundo,mas podemos semear a mudança. Então Marias, estão todas convidadas! Beijo no coração. Darcila Rodrigues.
A FESTA DE MARIA
Havia sal nos olhos de Maria.
Ainda inocente,
dividia versos em solitude.
Por vezes fingia não sentir
até a dor não doer mais.
Quando o inverno soprava íntimas esperas,
contava os vagões dos dias.
No verão,
dependurava vontades no varal
para aquecer ausências,
enquanto persistia o eco.
Sonha Maria!
Hoje, dia de harmonia,
é festa na casa de Maria.
À janela ensolarada,
a cama desarrumada.
o felino negro
de chapéu branco,
cheiro de café e amor feito.
- DO LIVRO TERCEIRA PESSOA, 2015
Ainda inocente,
dividia versos em solitude.
Por vezes fingia não sentir
até a dor não doer mais.
Quando o inverno soprava íntimas esperas,
contava os vagões dos dias.
No verão,
dependurava vontades no varal
para aquecer ausências,
enquanto persistia o eco.
Sonha Maria!
Hoje, dia de harmonia,
é festa na casa de Maria.
À janela ensolarada,
a cama desarrumada.
o felino negro
de chapéu branco,
cheiro de café e amor feito.
- DO LIVRO TERCEIRA PESSOA, 2015
Darcila Rodrigues
17/6/2016 " Querida amiga Darcila. Amei
teu poema "A festa de Maria"- Fiz uma pequena interpretação, e espero
que gostes.
"'Havia sal nos olhos de Maria". O
sal tem forte simbolismo bíblico. Na antiguidade além de ser utilizado para
purificar a alma, era considerado como fonte de riqueza e utilizado como moeda.
É dele que vem a palavra “salário”. Os olhos de Maria eram puros, como toda a
menina que carrega seus sonhos revestidos de ilusões e a certeza de que no
caminho só haveria flores. O mundo era um conto de fadas, e o príncipe uma
realidade que com o tempo viria em seu lindo corcel branco, imortalizar o amor.
“Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar?
Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.”
Mateus 5.13. "Quando o inverno soprava íntimas esperas, contava os vagões
dos dias."O inverno é o tempo de espera, de nos conectar com o ciclo da
vida-morte-vida que rege tudo na natureza. O tempo de espera é o tempo da
maturidade, do despertar para o mundo, do redescobrir-se por inteiro, nos
vagões da vida, que não param a não ser para aqueles, que nas estações já demarcadas,
dizem Adeus para quem neles continuam sua viagem. “No verão, dependurava
vontades no varal para aquecer ausências” Quantas incertezas, medos e
questionamentos rondaram nossa juventude, quantas ausências que nunca foram
recuperadas e quantas perguntas que ficaram sem resposta no varal de nossos
sonhos. “Hoje, dia de harmonia, é festa na casa de Maria. À janela ensolarada,
a cama desarrumada. o felino negro de chapéu branco, cheiro de café e amor
feito”. A cama desarrumada não guarda mais o calor de um corpo apenas. A luz
voltou, o sol está brilhando novamente na casa de Maria. Ela amadureceu, colheu
os espinhos e misturou-os nas flores, trocou de amores, se fez mulher. É festa
na casa de Maria, porque Maria, amadureceu, e o cheiro de café faz Maria mais
forte, mais inteira, revitalizada e absolutamente completa.
AMIGA DE TANTO INTERPRETAR A MARIA,
SURGIU UMA INSPIRAÇÃO QUE DENOMINEI:
NÓS AS MARIAS. Nós....as "
Marias" Somos todas "Marias" carregando o peso de uma geração
buscando a vida, o outro e a sorte. Na esquina da ilusão. Geramos a vida...e
também a morte o holocausto e a temporalidade somos a condenação! Marias
abandonadas, odiadas...amadas! Marias pervertidas...desprezadas, e cruelmente
crucificadas! Maria das dores, das palavras não ditas do pecado original...da
vida sem sal dos pesadelos, das flores, e das ausências e heranças malditas.
Marias da vida que geram outras vidas por vezes tão sofrida!
Marias...penalizadas, crucificadas...perdidas! Tantas Marias...abusadas,
agredidas...escravizadas! Marias sem vida própria sem amor, sem esperança, sem
vida...sem memória! Marias...a fonte do viver, o ventre da história gerando o
futuro... aqui e agora!"
Marilu Duarte
E após transpiração de Marilu Duarte, eis que surge:
SOMOS TODAS "MARIAS"
Somos todas
"Marias"
Marias que geram o
início e o fim
o holocausto e a
temporalidade...
Marias negras, Marias
brancas
novas e velhas de
todas as idades
ricas, miseráveis ou
carentes da sorte
loiras, castanhas ou morenas
Marias da vida, e
Marias da morte
carregando o peso de
uma geração
buscando a vida, o
outro e a sorte
nos braços do destino
e da solidão.
Marias abandonadas,
odiadas, amadas
Rateadas, vendidas,
trocadas
Mulheres de areia, sem
teto e sem nada
Marias pervertidas,
desprezadas
Marias, assassinadas.
Maria das dores, das
palavras não ditas
do pecado, da vida sem
sal
Marias desditas
dos pesadelos, das
flores
das ausências e
heranças malditas.
Marias geratrizes de vidas
Penalizadas, crucificadas
Vagam, perdidas...
no luxo do lixo das
avenidas.
Marias tantas e tanto!
Abusadas, delinquentes
Escravas dos
preconceitos, da própria vida
Sem amor, sem sonhos,
sem memórias
Vazias, por dentro e
por fora.
Somos o útero desejoso do futuro
aqui e agora!
Somos todas Marias, o ventre da história...
Marilu Duarte
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