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Joaquim Moncks |
Pra quem quiser conhecer um pouco de Poesia:
Leitor(a)! O blog não garante que a Poesia se aprochegue, mas com alguma atenção quanto aos textos do Poeta Joaquim Moncks nesta nova coluna, o que muito nos honra; tê-lo como Colaborador, seguramente ficará sabendo o que não é poesia. E, se a Poesia te descobrir, copula com ela... e que desta possam nascer alguns filhos que não andam nem falam... mas DIZEM...
VERSOS SEM POESIA
Não reconheço a
“ALDRAVIA” como novidade de forma poética, nem como genuinamente modelo
brasileiro. No entanto, me parece importante que a todo o momento, se possível,
a Poesia seja louvada como bem merece, mesmo que incorretamente aventada, o que
induz aos expectantes que se está à busca de uma das facetas do Mistério. Não
desejo polemizar porque isto não leva a nada, e acaba prestigiando somente os
pseudopoetas que pretendem aparecer na mídia com algo que pareça ser original
ou o Novo quanto ao pertinente à literatura. A originalidade é intrínseca à
Poesia, independente de forma – que é o invólucro pelo qual é apresentada – e,
em todos os exemplares aldravistas que vi até hoje, não consegui encontrar
intrinsecamente a Poética, apenas uma proposta de discussão sobre forma e
formato. O verso (com poesia) independe da forma, porque Poesia é espécie
literária única do gênero Poética – a voz do Mistério. A Poesia (em si e por
si) não é materialmente palpável ou tangível, pois trata-se de um estado de
inquietação espiritual que dá origem à individualidade artística ungida pelo
gênio criativo de seu autor: o poeta. O cadinho criacional ocorre em dois
momentos: o da inspiração e o da transpiração, que podem ou não ser
concomitantes ou simultâneos. Na espontaneidade original aportada na INTUIÇÃO,
predomina a emoção, e no segundo momento, a razão faz o seu aporte, assentada
na intelecção. E é neste último átimo da criação que resta fixada
definitivamente a forma da peça poética. Muitos autores – como eu – entendem que
a peça escritural nunca está pronta e a revisam várias vezes, aceitando o
desafio que a estética verbal proporciona ao criador. Na atualidade formal, o
POEMA é a materialidade do gênero POESIA, como foram, durante muitos séculos, o
haicai, o soneto, o acróstico, a trova literária. No poema da contemporaneidade
se constata a não exigência de versos silabados com esquemas de rimação e
outras características identificadores da originalidade conceptual que
compareciam na modalidade clássica. Só vale o ritmo, a musicalidade do verso. É
o chamado VERSO BRANCO ou LIVRE, que carrega em sua conceituação formal o caos
do pensamento metafórico atual. E é esta materialidade que permite a revelação
da Poesia como gênero. Os regramentos da recém-nata “aldravia” são camisas de
força para a expressão poética atual, tal como foram as formas anteriormente
postas e conhecidas, no decorrer do classicismo. Repito: até agora não tive a
alegria de encontrar nenhum exemplar deste formato (forjado para a facilitação
da construção poética) que contivesse Poesia com P maiúsculo. Sim, porque há
versos com POESIA e VERSOS SEM POESIA, e isto independe de forma ou formato – a
essência é o que importa. Reitero: está-se discutindo FORMA, e eu – como
analista literário – só me manifesto sobre o mérito de materialização poética
que contenha Poesia. Claro, este é alinhavo e mérito pra quem é realmente Poeta
(com P maiúsculo) e não somente confeccionador de forma e formato. Preocupo-me
com o arremedo que é apresentado como se fora a representação do Novo, que nada
mais é do que uma decorrência das formas e formatos clássicos. Buscam os
eventuais cultores do retorno ao verso engessado a fácil popularidade. Poesia
não se faz com forma e formato, e sim com talento intuitivo, estudo e muita
leitura – para aprimorar o objeto estético como voz autônoma do mistério
criativo.
Joaquim Moncks
– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4840406